NATALÍCIO CAVALO

Se vive de morte.

Se nasce de vida.

Pensar a morte, a nossa e a dos mortos que carregamos, é pensar o tempo de uma forma que ele não desaparece. É articular uma teia de memória que define quem somos e abre possibilidades a quem podemos e queremos ser – afinal, somos aquilo que lembramos, e aquilo que esquecemos também. A morte é a experiência do tempo, é nossa memória coletiva e individual, simultaneamente. Morremos e rejuvenescemos sem cessar. Não há vida sem morte, não há morte sem vida.

Em Natalício Cavalo, vida, morte e memória se encontram na trama de trajetórias que atravessa a composição dramatúrgica: a do próprio Natalício, que já está morto, e a dos atores e personagens que buscam reconstituí-la, tecendo fragmentos e imaginando o que não sabem. Uma celebração do tempo e dos espaços que habitamos, e que outros habitaram antes de nós.

O espetáculo lança um olhar festivo à experiência da mortalidade, entendendo que vida e morte são parte de um só movimento. Natalício vive suas vidas e várias mortes em aventuras poéticas pelos caminhos do sul, um anti-herói que vaga entre a cidade e o pampa durante o século XX, celebrando a vida e encontrando a morte em mais de uma esquina. Transitando entre os anos 40 e o presente, a montagem percorre o universo do pampa gaúcho e também da paisagem urbana e boêmia de Porto Alegre.

O universo do pampa é uma importante referência para a montagem, como zona poética e existencial que constitui o personagem central, fruto da memória de nossos antepassados e de nossa imaginação presente. Mais além de estereótipos banalizados, buscamos o pampa como território sensível que exige a amplitude do olhar e nos expõe aos ventos. A ênfase na teatralidade da cena é uma característica decisiva na linguagem da companhia, que celebra a presença de atores e espectadores em um mesmo tempo-espaço compartilhado de mortalidade. Em Natalício Cavalo, essa opção é simultaneamente uma escolha estética, ética e temática. Através de seu aspecto efêmero e corpóreo, o teatro se afirma como uma espécie de “insinuação de mortalidade”, apontando a necessidade de lidar com a morte, portanto com a potência da vida e os desafios da transformação.

Natalício Cavalo estreou em março de 2013, no Teatro de Câmara de Porto Alegre, com financiamento do Prêmio Funarte Myriam Muniz 2012.  No mesmo ano foi contemplado com o Prêmio Braskem Melhor Espetáculo no Festival Internacional Porto Alegre Em Cena. Indicado ao Prêmio Açorianos 2013: Melhor Espetáculo, Direção, Ator, Cenografia, Iluminação, Produção, Dramaturgia, Figurino, Trilha Sonora. Contemplado na categoria Melhor Ator (Rossendo Rodrigues).  Em 2014 participou da Mostra de Repertório da Cia Rústica em Residência Artística no Festival Palco Giratório do Sesc RS, realizou circulação pelo interior do RS pelo Circuito Arte Sesc, em diversas cidades, e circulação pelo projeto Cia Rústica em Circuito (2014- Premio Funarte Myriam Muniz), nas cidades de Caxias do Sul, Santa Maria, Florianópolis, Blumenau e Itajaí.

Equipe: 

Direção e composição dramatúrgica: Patrícia Fagundes. Elenco: Heinz Limaverde, Lisandro Bellotto, Marcelo Mertins, Marina Mendo, Priscilla Colombi, Rossendo Rodrigues. Cenografia: Rodrigo Shalako. Figurino: Daniel Lion. Trilha Sonora: Arthur de Faria. Preparação musical: Simone Rasslan. Assistência de Direção e Produção: Ander Belotto e Maurício Casiraghi. Vídeos: Maurício Casiraghi. Iluminação: Lucca Simas. Direção de Produção: Patrícia Fagundes. Apoio de administração e produção: Juan Luis Regodon. Arte Gráfica: Paloma Hernandez. Assessoria de Imprensa: Leo Sant’Anna. Fotografia: Alex Ramirez.

Mais links:

https://nataliciocavalo.wordpress.com/